Saúde Mental
Ansiedade: o mal do século?
6 JUN 2025 • POR Renan Maia • 09h33
Psicólogo Clínico || CRP 14/07127-2 || @renanmaia.psi
Frio na barriga, nó no estômago, coração acelerado, mãos e pés gelados, tremores, boca seca... O corpo alerta, como se estivesse diante de uma ameaça real — mas o perigo, muitas vezes, não está fora, está dentro. E então vem o pensamento repetitivo, a angústia de não conseguir parar, o medo do que pode acontecer e o desejo desesperado de fazer tudo isso ar logo.
A ansiedade, tão presente no vocabulário cotidiano, é também um dos maiores desafios da saúde em nosso tempo. Não é exagero: somos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o país mais ansioso do mundo. Isso mesmo, somos campeões em algo que ninguém quer vencer. Mas o que há de tão adoecedor em nosso estilo de vida que nos leva, em massa, a esse estado de alerta constante?
A ansiedade não é, por si só, uma vilã. É um mecanismo de sobrevivência que herdamos ao longo da nossa humanidade, isso para nos preparar diante de perigos ou desafios reais. O problema é quando essa reação se torna desproporcional — intensa e duradoura demais — transformando o que deveria ser proteção em sofrimento. Hoje, muitos vivem permanentemente em “estado de emergência” — mesmo sem nenhum incêndio à vista.
A sociedade contemporânea, com suas exigências de performance, conexão constante e culto à produtividade, se tornou um terreno fértil para a ansiedade florescer. Somos ensinados desde cedo a “não parar”, a “não falhar”, a “dar conta”. Quando não conseguimos (porque ninguém consegue o tempo todo), nos culpamos, nos comparamos e nos desgastamos — física e emocionalmente.
O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, em sua obra A Sociedade do Cansaço, descreve esse fenômeno com precisão: vivemos na era do “excesso de positividade”, onde não há espaço para o não, para a frustração, para a pausa, para a dor... E isso nos adoece. A ansiedade nesse contexto é, além de um adoecimento individual, um sintoma coletivo.
Mas se o adoecimento é multifatorial, o cuidado também precisa ser. A psicoterapia é uma das ferramentas mais eficazes para compreender os gatilhos emocionais e modificar os padrões de pensamentos disfuncionais. Mais do que se livrar da ansiedade, o objetivo é aprender a controlar, sem que ela nos controle. Conviver com ela de forma mais saudável, sem que ela nos paralise.
É preciso também reaprender a viver no tempo da vida (orgânica) — que não é o tempo dos algoritmos (artificial). Pequenos hábitos como caminhar prestando atenção no caminho, silenciar o celular por algumas horas, conversar com as pessoas que amamos e respeitar os próprios limites, são formas de resistência emocional.
Cuidando da ansiedade na prática:
1. Observe seus sinais
Corpo e mente andam juntos. Perceba como e o que desperta a ansiedade em você (o gatilho nem sempre é externo e pode estar dentro dos seus pensamentos).
2. Respire com atenção
A respiração consciente é um antídoto simples e eficaz contra o aumento da ansiedade. A meditação guiada e a respiração 4-7-8 são técnicas que podem te ajudar a controlar a respiração, se tornando grandes aliadas.
3. Questione seus pensamentos automáticos
Nem tudo o que pensamos é verdade. Às vezes, a mente interpreta situações de forma distorcida e equivocada. Identificar e corrigir esses pensamentos ajuda a quebrar padrões disfuncionais.
4. Crie rotinas que te sustentem, não que te sufoquem
Ter uma estrutura diária pode ajudar, desde que ela não vire mais uma fonte de cobrança. Estabelecer uma rotina saudável e previsível é de suma importância, mas há que ter flexibilidade com os imprevistos.
5. Busque apoio psicológico
Não é necessário esperar “piorar” para procurar ajuda. A psicoterapia é também um espaço de prevenção e crescimento.