Saúde
Estudo revela que demência em idosos internados a despercebida na maioria dos hospitais
Pesquisa mostra que metade dos casos de demência não é identificada durante internações e propõe triagem simples para melhorar diagnóstico.
3 JUN 2025 • POR do Idest, JWC • 17h12Um estudo liderado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP alerta que a demência e outros comprometimentos cognitivos em idosos hospitalizados frequentemente não são reconhecidos pelas equipes de saúde, o que pode impactar negativamente o tratamento e a recuperação dos pacientes.
Problema ignorado durante internações
A pesquisa, publicada no Journal of the American Geriatrics Society, aponta que cerca de dois terços dos pacientes com 65 anos ou mais internados em hospitais apresentam algum grau de comprometimento cognitivo, como perda de memória. Um terço tem diagnóstico de demência.
Segundo o professor Márlon Aliberti, primeiro autor do estudo, a não identificação dessas condições ocorre porque o foco dos profissionais geralmente está na enfermidade aguda que levou à internação, como infecções ou problemas cardíacos.
“No entanto, a demência influencia diretamente a resposta a medicamentos, aumenta o risco de delírio, prolonga a internação e dificulta a reabilitação”, destaca Aliberti.
Diagnóstico muitas vezes desconhecido
O estudo mostrou ainda que, entre os casos de demência identificados, cerca de metade nunca havia sido diagnosticada anteriormente — permanecendo desconhecida até o momento da internação, inclusive por médicos e familiares.
Essas alterações cognitivas já estavam presentes antes do episódio agudo, mas não haviam sido reconhecidas, o que prejudica o planejamento adequado dos cuidados durante e após o período hospitalar.
Solução prática: entrevista com familiares
Para lidar com essa realidade, os pesquisadores propõem uma triagem simples: uma entrevista à beira do leito com um familiar ou cuidador próximo, realizada nos primeiros dias de internação.
A professora Claudia Suemoto, responsável pela supervisão do estudo, explica que a estratégia permite identificar déficits cognitivos mesmo em pacientes que não conseguem participar diretamente da avaliação. “Não se trata de um diagnóstico definitivo, mas de uma triagem eficiente que pode ajudar no melhor planejamento do cuidado hospitalar”, afirma.
Triagem pode prevenir novas internações
Com a identificação precoce do comprometimento cognitivo, é possível orientar melhor os cuidados após a alta, como a necessidade de apoio familiar mais estruturado, especialmente em casos de pacientes que vivem sozinhos.
“Isso pode evitar complicações futuras e até novas internações”, explica Suemoto.
Método testado e aprovado
O novo método foi testado em cinco hospitais de São Paulo, Belo Horizonte e Recife, apresentando eficácia superior a 90%. Com os resultados positivos, a abordagem será implementada na rede do grupo de estudo Change, ligado à Faculdade de Medicina da USP.
Mais de 250 profissionais já foram treinados para aplicar a ferramenta em 43 hospitais do Brasil e de outros quatro países: Angola, Chile, Colômbia e Portugal.
Colaboração científica
O estudo foi conduzido pelo Laboratório de Investigação Médica em Envelhecimento, sob a supervisão da professora Claudia Suemoto, em parceria com a professora Monica Yassuda, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, e a médica Regina Magaldi, da Divisão de Geriatria do Hospital das Clínicas da USP.