Regional
Orgulhos Coxinenses: Geraldo Mochi e Dona Didi
23 MAI 2025 • POR Gessica Oliveira • 09h10Geraldo Mochi
Aos 15 anos começou a conduzir boiadas entre MG e SP, e aos 18 ou a dirigir caminhões, profissão que exerceu por mais de 20 anos, conhecendo vários estados do Brasil. Cumpriu o serviço militar em sua cidade, no Tiro de Guerra TG-22.
Casou-se em 1961 com Amélia Vieira Mochi, com quem teve cinco filhas: Rosália, Rosilene, Rosangela, Rosemary e Rosemara. No final dos anos 50, ou a declamar poesias em programas de rádio em Itápolis, incluindo apresentações ao vivo em auditórios, o que o levou a auxiliar radialistas e adquirir experiência na área.
Em 1958, mudou-se com a família para Campina da Lagoa-PR, onde morou por 22 anos. Lá foi eleito vereador por três mandatos consecutivos, participou da emancipação do município e compôs o hino da cidade com o maestro Sisenando Moura. Já escrevia poesias que mostrava apenas a familiares e amigos próximos.
Também em Campina da Lagoa, iniciou sua trajetória como empresário, divulgando os produtos da farinheira que istrava no programa de rádio “Geraldo Mochi Show”, em Ubiratã-PR. Teve destaque como comunicador e organizador de eventos, promovendo shows de calouros e, em 1978, apresentando a dupla Tonico e Tinoco, sendo elogiado como um grande “speak” (apresentador).
Em 1975, comprou terras em Coxim-MS, mudando-se para lá definitivamente em 1980. Tornou-se o primeiro presidente e fundador da Associação Comercial, além de atuar como empresário, pecuarista e agricultor, sendo pioneiro no cultivo de banana e seringueira na região.
Na rádio Vale do Taquari, lançou o programa “Resgatando Valores e Pescando Talentos”, que permaneceu no ar por mais de 30 anos, sendo atualmente apresentado por Mauro André. Recebeu nomes como Zacarias Mourão, Chitãozinho & Xororó e as Irmãs Galvão. Zacarias lhe contou a história por trás da música “Pé de Cedro”, que imortalizou Coxim nacional e internacionalmente.
Teve contato com grandes nomes da música sertaneja como José Fortuna, Goiá e João Pacífico, frequentando a União de Artistas Sertanejos Paulistas em São Paulo. Geraldo também incentivou talentos locais, promovendo shows em que participaram, ainda adolescentes, João Bosco e Vinícius, a quem sugeriu que formassem uma dupla.
Em 1986, suas filhas reuniram mais de 100 poemas em ordem alfabética e o presentearam, o que deu origem ao seu livro de poesias, lançado pela primeira vez em 1997 e que já está na 5ª edição. Em 1998, assumiu uma cadeira na Academia Sul-Mato-Grossense de Letras e foi convidado para integrar a futura Academia Coxinense de Letras.
Ativo nas escolas, projetos culturais e causas ecológicas, foi responsável por plantar diversos pés de cedro em praças e igrejas da cidade. Criou quadros como “Criança ao pé do rádio” e sempre incentivou a participação das filhas e netos na rádio.
Mesmo afastado dos microfones, continua contribuindo com ideias e sugestões para o programa. Um homem de muitas faces — poeta, radialista, vereador, agricultor, apresentador, líder comunitário —, é lembrado com carinho por sua frase que marcou gerações: “Vamos em frente que atrás vem gente.”
Dona Didi
Acolhedora, humilde e determinada, Dona Didi é daquelas senhoras cuja presença ilumina com ternura e sabedoria. Membro recente da Academia de Letras de Coxim, ela não apenas se destacou pela escrita, mas também deixou uma marca profunda na história da comunicação regional por meio do radioamadorismo.
Nascida em Coxim, em uma fazenda à beira da Figueira, próxima à ponte do Taquari, carrega em sua trajetória familiar o eco dos tempos difíceis. Seus bisavós morreram na retomada de Corumbá, e sua avó foi acolhida em Coxim pela professora Filomena Benevites, que mais tarde se casaria com Evaristo Rocha, telegrafista. Dona Didi é fruto dessa linhagem resiliente: filha da caçula do casal, perdeu o pai ainda pequena e foi criada sob os cuidados do irmão mais velho.
Seu pai, cidadão americano nascido na Alemanha, atravessou a América em busca de um clima quente após adoecer de beri-beri no Canadá. A viagem o levou do Alasca até Buenos Aires, Montevidéu e, por fim, ao interior do Brasil, chegando a Corumbá atraído pela promessa do ouro. Um dia, ao ir a Coxim consertar uma a, acabou sendo recrutado para montar uma ferraria recém-adquirida por três famílias locais. Como ninguém sabia operá-la, tornou-se sócio industrial e iniciou sua história na cidade, onde conheceu sua futura esposa e construiu sua família.
Dona Didi deixou Coxim aos cinco anos. Estudou em uma escola particular onde hoje é o HSBC, tendo como professores o senhor Cerejo e dona Conceição. Mais tarde foi para Campo Grande, frequentando colégios como Antônio João, Osvaldo Cruz e o Nossa Senhora Auxiliadora, antes de se mudar para São Paulo. Lá morou em pensionato, concluiu os estudos e lecionou por um ano no Colégio Auxiliadora, onde conheceu Dioraci de Castro Mascarenhas, com quem se casaria. Quando o pai adoeceu, Dona Didi retornou à terra natal para cuidar das propriedades da família, assumindo com o marido as responsabilidades pelos negócios.
Foram 29 anos vividos na fazenda Retiro Velho, onde conheceu de perto a comunidade coxinense. Lembra com carinho das festas e dos laços entre vizinhos, onde todos se tratavam como compadres e comadres. “As famílias se acolhiam, faziam confraternizações, havia carinho e respeito mútuo”, recorda. Embora reconheça que o progresso trouxe facilidades — como eletrodomésticos, energia elétrica e a substituição de antigos lampiões —, lamenta a perda daquele clima fraterno.
Foi no Retiro Velho que floresceu sua vocação para o radioamadorismo. Com incentivo do pai, estudou em Cuiabá e operava um rádio movido a motor a gasolina. A comunicação por ondas de rádio não apenas informava, mas salvava vidas. O programa “Rodada do Pantanal” transmitia notícias locais e mundiais, e os aparelhos de pilha permitiam à comunidade se manter conectada.
Ela relata episódios marcantes: uma grávida em Pedro Gomes cuja vida, e a do bebê, foram salvas graças às instruções médicas transmitidas via rádio; um menino ferido em um engenho que foi socorrido após Dona Didi contatar a ferrovia, que acionou um médico por avião; e o caso de um pai que caminhou 30 km com o filho doente em uma rede, esperando oito dias até que o transporte aéreo pudesse chegar. O rádio era, muitas vezes, a única esperança.
O radioamadorismo contava com sete aparelhos espalhados pelo estado — em locais como Três Lagoas, Pantanal, Rondonópolis, Campo Grande e Santana de Paranaíba. Quatro deles pertenciam à sua própria família: dois irmãos, uma cunhada e um cunhado também atuavam como radioamadores.
As memórias de Dona Didi também resgatam uma Coxim sem pontes, hospitais ou médicos, onde a farmácia era o recurso mais próximo de assistência. Mesmo assim, a alimentação era saudável, o ritmo era outro, e as pessoas, mais próximas. Hoje, com duas filhas morando em Campo Grande, ela escolheu permanecer na fazenda: “Não é obrigação, é vontade. Tudo é bonito aqui. Na capital é tudo corrido. Não me adapto mais.”
Sobre o mundo atual, ela reconhece avanços materiais, mas lamenta a perda de valores, sobretudo na educação. “Hoje as pessoas têm instrução, mas não formação. Educação começa ao nascer. As leis estão no papel, mas não protegem o cidadão de bem”, reflete. Desiludida com as instituições, diz não confiar mais no governo federal, marcado por escândalos morais e falta de representatividade confiável.
Dona Didi é, sem dúvida, um elo entre o ado e o presente. Com sua voz firme, seu coração generoso e sua história de coragem, ela representa um tempo em que a solidariedade era a principal rede de comunicação — e o rádio, um instrumento de vida.